No estudo «Strategic Sector Signals», a Cushman & Wakefield descreve a crescente procura por imóveis industriais e logísticos em toda a Europa por parte de setores estratégicos incluindo defesa, tecnologia de
energia limpa, materiais críticos e ciências da vida.
O setor da defesa está a liderar esta expansão, impulsionado por aumentos significativos no investimento público e por metas vinculativas que favorecem a aquisição de produtos fabricados na Europa. Estas
mudanças nas políticas públicas estão a alimentar um aumento significativo na procura por espaços industriais por parte das empresas do setor da defesa. A oferta está a ser alcançada de várias maneiras. Das novas instalações fabris anunciadas ou inauguradas desde o início de 2024, 54% correspondem a ampliações de unidades já existentes — um reflexo da urgência e da escala dos investimentos. Outros 16% estão a ser
instalados em edifícios previamente existentes, adaptados ou remodelados para novos usos, enquanto 26% estão a ser construídos de raiz.
Grande parte dos investimentos recentes na área da defesa tem sido direcionada para locais já estabelecidos, com capacidades consolidadas, como os clusters existentes em França, Reino Unido, Alemanha, Itália,
Espanha e Suécia. Paralelamente, novas zonas estratégicas estão a emergir na Europa Central e Oriental, com países como a Polónia e a Roménia a afirmarem-se como centros defensivos relevantes desde a invasão
russa da Ucrânia.
Para além da construção de novas unidades de produção, há uma necessidade crescente de infraestruturas logísticas que permitam o transporte eficiente de mercadorias dentro e fora da Europa — especialmente ao
longo dos principais corredores de transporte e nos grandes portos europeus.
Sally Bruer, diretora de EMEA Logistics & Industrial and Retail Research na Cushman & Wakefield, afirmou: «A escala e a velocidade do investimento na indústria de defesa significam que há necessidades
imediatas e crescentes de soluções imobiliárias industriais e logísticas. As estratégias imobiliárias devem levar em consideração o reforço da segurança, o escrutínio regulatório e o controlo de ativos a longo prazo. As ampliações estão a revelar-se o caminho mais rápido para a expansão, mas novas construções e conversões também fazem parte das soluções imobiliárias para o crescimento dos fabricantes.”
A tecnologia de energia limpa também está a registar um forte crescimento na procura por espaço industrial, impulsionada por iniciativas como a Lei da Indústria Net-Zero da UE e o Plano do Setor de Energia Limpa do
Reino Unido. O foco em subsetores estratégicos — como energia solar fotovoltaica, tecnologia eólica e pequenos reatores nucleares modulares — revela diferenças significativas nas dinâmicas comerciais entre os
vários segmentos da produção de equipamentos para energia limpa.
As necessidades imobiliárias variam desde edifícios personalizados, ocupados pelos próprios fabricantes para produção especializada, até ativos convencionais arrendados para operações de montagem e logística. As decisões de localização são fortemente influenciadas pela proximidade a infraestruturas de transporte, acesso a mão de obra qualificada e os benefícios da concentração em polos industriais já estabelecidos. A Alemanha lidera este setor, concentrando cerca de metade da capacidade de produção da UE tanto em energia solar como eólica. O Reino Unido, Itália, França, Espanha, os países nórdicos e várias regiões da Europa Central
e Oriental também apresentam capacidades relevantes neste domínio.
O setor de materiais críticos está a responder à crescente procura por recursos estratégicos — como níquel, lítio e elementos de terras raras — essenciais para o fabrico de tecnologias avançadas. A Lei de Matérias-
Primas Críticas da UE e a futura Estratégia de Minerais Críticos do Reino Unido procuram garantir o abastecimento interno, numa altura em que a procura continua a crescer. As instalações de mineração e refinação são, em geral, ocupadas pelos próprios operadores, enquanto as atividades de reciclagem abrem oportunidades para o arrendamento de espaços industriais convencionais, sobretudo nas proximidades de
centros de produção.
As ciências da vida mantêm-se como uma prioridade para a UE e o Reino Unido, com estratégias centradas na investigação, produção e resiliência das cadeias de abastecimento. Apesar da incerteza em torno das tarifas no mercado norte-americano estar a gerar decisões de investimento mais cautelosas, a relocalização da produção farmacêutica continua a ser uma decisão complexa, devido aos elevados custos e à exigente
regulamentação. As necessidades imobiliárias incluem instalações de produção em conformidade com as Boas Práticas de Fabrico, geralmente ocupadas pelos proprietários, e centros logísticos que cumprem as Boas
Práticas de Distribuição, habitualmente arrendados. O investimento deverá continuar a concentrar-se nos clusters industriais já estabelecidos e em corredores logísticos próximos.
Segundo Sérgio Nunes, Partner e Diretor de Industrial & Logística na Cushman & Wakefield em Portugal: “Portugal, graças à sua localização geoestratégica e às condições climáticas excecionais, reúne todos os fatores para se afirmar como um ponto estratégico na União Europeia, assumindo um papel central em setores de elevado valor acrescentado. O país já regista avanços significativos na tecnologia de energia limpa e no aproveitamento de materiais críticos, áreas decisivas para a transição energética e para a autonomia estratégica europeia”.